Os Verdes do meu (des)contentamento
Realizou-se ontem, em Amarante,
no muuuuito recomendável restaurante A Eira, um jantar vínico que gravitou em torno dos vinhos verdes
amarantinos – burgo de conhecidos e ilustres personagens (Amadeu de Sousa
Cardoso, Agustina Bessa Luís, Teixeira de Pascoais, …) e de desconhecidos mas
igualmente ilustres vinhos. Destaque-se que Amarante é uma das nove sub-regiões
que constituem a região demarcada dos vinhos verdes. As restantes são Ave,
Baião, Basto, Cávado, Lima, Monção, Paiva e Sousa. Totalizam cerca de 35 000 hectares
(ha), envolvem cerca de 34 000 vitivinicultores e dão origem a cerca de 90
milhões de vinho/ano. A sub-região de Amarante contribui com 2 900 ha, 3300
vitivinicultores e 6,5 milhões de litros.
A ocasião foi, e muito bem, razão
e oportunidade para a única associação representativa
dos produtores de vinho verde de Amarante , a ProViverde se dar a conhecer aos comensais.
Esta organização com a proveta
idade de 25 anos tem vegetado à sombra de si própria. Espera-se agora que com
uma nova Direção (empossada há escassos meses) a situação se inverta,
considerando o muito que há a fazer pelos vinhos da sub-região.
Numa época em que o sector
cooperativo minhoto agoniza nos seus próprios vícios apesar do peso
significativo que tem na produção de vinho (25% em 2010/2011) cabe, para além dos próprios produtores
individuais, às organizações de natureza mais intimista a responsabilidade de
um trabalho que nem o Estado nem as Cooperativas, nem as maioria das Comissões
Vitivinícolas Regionais (CVRs), sabem fazer. E falamos de quê? No fundo falamos
da aplicação das “leis” do marketing mix – o preço, o produto, a distribuição e
a comunicação. Considerando que as três primeiras são postas em prática pela
maioria dos agentes, incide na última a responsabilidade maior do sucesso ou do
insucesso de toda a fileira.
Até hoje o Estado não o quis
fazer porque entendia não ser a sua vocação e/ou missão. Começa agora, finalmente,
a ver a coisa por outro azimute - atente-se quer nas funções atribuídas atualmente
aos Embaixadores portugueses, quer à atividade de fundo do Ministro dos
Negócios Estrangeiros e, se quisermos, ao Ministro da Economia com sua ingénua
defesa ao pastel de Belém.
As CVRs, mais afoitas, têm feito
a coisa bastante melhor mas, ainda assim, encapsuladas em leis/estatutos,
maioritariamente definidos pelas próprias, que em nada contribuem para as
razões da sua existência. Vejamos um simples exemplo: os estatutos da Comissão
Vitivinícola Regional dos Vinhos Verdes (CVRVV) definem um rendimento máximo
por ha que ronda as 11 toneladas (ton).
No entanto, se o mesmo ha produzir 15 ton, apenas 4 ton são desclassificadas ou
seja, não poderão dar origem a vinho verde. Se a coisa fosse levada a sério,
obviamente que toda a produção teria de ser desclassificada e não apenas o
“excesso”. Dito de outra forma: como saber, dentro das 15 ton, quais são as 11
ton “boas” e as 4 ton “más”? Se considerarmos ainda que 99 % do vinho produzido
no Minho é considerado Denominação de Origem Protegida (DOP), enquanto a média
nacional para os vinhos DOP é 16%, facilmente inferimos que não é com aquele
contra-senso (entre outros) que se defendem os vinhos da região.
O que é que isto tem a ver com a
tal 4ª “lei” do marketin-mix? Tudo! Ou não é a coerência e a honestidade da
mensagem, uma vantagem intangível do produto?