Sunday, July 15, 2012


Os Verdes do meu (des)contentamento

Realizou-se ontem, em Amarante, no muuuuito recomendável restaurante A Eira, um jantar vínico que gravitou em torno dos vinhos verdes amarantinos – burgo de conhecidos e ilustres personagens (Amadeu de Sousa Cardoso, Agustina Bessa Luís, Teixeira de Pascoais, …) e de desconhecidos mas igualmente ilustres vinhos. Destaque-se que Amarante é uma das nove sub-regiões que constituem a região demarcada dos vinhos verdes. As restantes são Ave, Baião, Basto, Cávado, Lima, Monção, Paiva e Sousa. Totalizam cerca de 35 000 hectares (ha), envolvem cerca de 34 000 vitivinicultores e dão origem a cerca de 90 milhões de vinho/ano. A sub-região de Amarante contribui com 2 900 ha, 3300 vitivinicultores e 6,5 milhões de litros.

A ocasião foi, e muito bem, razão e oportunidade para  a única associação representativa dos produtores de vinho verde de Amarante , a ProViverde se dar a conhecer aos comensais.

Esta organização com a proveta idade de 25 anos tem vegetado à sombra de si própria. Espera-se agora que com uma nova Direção (empossada há escassos meses) a situação se inverta, considerando o muito que há a fazer pelos vinhos da sub-região.

Numa época em que o sector cooperativo minhoto agoniza nos seus próprios vícios apesar do peso significativo que tem na produção de vinho (25% em 2010/2011)  cabe, para além dos próprios produtores individuais, às organizações de natureza mais intimista a responsabilidade de um trabalho que nem o Estado nem as Cooperativas, nem as maioria das Comissões Vitivinícolas Regionais (CVRs), sabem fazer. E falamos de quê? No fundo falamos da aplicação das “leis” do marketing mix – o preço, o produto, a distribuição e a comunicação. Considerando que as três primeiras são postas em prática pela maioria dos agentes, incide na última a responsabilidade maior do sucesso ou do insucesso de toda a fileira.

Até hoje o Estado não o quis fazer porque entendia não ser a sua vocação e/ou missão. Começa agora, finalmente, a ver a coisa por outro azimute - atente-se quer nas funções atribuídas atualmente aos Embaixadores portugueses, quer à atividade de fundo do Ministro dos Negócios Estrangeiros e, se quisermos, ao Ministro da Economia com sua ingénua defesa ao pastel de Belém.

As CVRs, mais afoitas, têm feito a coisa bastante melhor mas, ainda assim, encapsuladas em leis/estatutos, maioritariamente definidos pelas próprias, que em nada contribuem para as razões da sua existência. Vejamos um simples exemplo: os estatutos da Comissão Vitivinícola Regional dos Vinhos Verdes (CVRVV) definem um rendimento máximo por ha  que ronda as 11 toneladas (ton). No entanto, se o mesmo ha produzir 15 ton, apenas 4 ton são desclassificadas ou seja, não poderão dar origem a vinho verde. Se a coisa fosse levada a sério, obviamente que toda a produção teria de ser desclassificada e não apenas o “excesso”. Dito de outra forma: como saber, dentro das 15 ton, quais são as 11 ton “boas” e as 4 ton “más”? Se considerarmos ainda que 99 % do vinho produzido no Minho é considerado Denominação de Origem Protegida (DOP), enquanto a média nacional para os vinhos DOP é 16%, facilmente inferimos que não é com aquele contra-senso (entre outros) que se defendem os vinhos da região.

O que é que isto tem a ver com a tal 4ª “lei” do marketin-mix? Tudo! Ou não é a coerência e a honestidade da mensagem, uma vantagem intangível do produto?