Friday, January 18, 2013

A pegada azul dos vinhos


  Foi criada uma etiqueta de certificação de sustentabilidade para empresas vinícolas da União Europeia (EU) que dá pelo nome de Eco-Prowine.
A atribuição deste novo selo, que se pretende de reconhecimento mundial, atesta a sustentabilidade da produção de uvas e vinhos.
Esta iniciativa é de louvar considerando a necessidade de melhorar o desempenho, e o respetivo reconhecimento por parte dos consumidores, da componente ambiental das empresas vinícolas europeias.
No entanto, particularmente no caso dos produtores nacionais, há que ter em conta duas cruas realidades às quais me atreveria a chamar o “paradoxo ambiental português”.
A primeira é que a grande maioria das empresas vinícolas é de pequena dimensão (apenas 475 produzem mais que 1000 hL de vinho/ano num total de cerca de 38 700 locais de vinificação) logo, poderão ver acrescidas de forma significativa os custos inerentes a tal certificação ou nem sequer a solicitar, sendo que, precisamente por serem pequenas terão, em princípio, um impacto ambiental menor.
A segunda é que o respeito pelo ambiente em Portugal é algo que, genericamente, não existe.
Diversos relatórios oficiais registam o incumprimento pela esmagadora maioria das empresas do setor das normas ambientais. Por exemplo, a Inspeção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território concluiu que, para a campanha 2004/2005, apenas 7% das empresas possuem licença para descarga de efluentes em meio hídrico e apenas 1% cumprem a totalidade das prerrogativas relacionadas com o ambiente.
Em 2007 o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) conclui que 43% das adegas cooperativas não tem qualquer sistema de tratamento de efluentes vinícolas.
Para o mesmo ano, os Ministérios do Ambiente e da Agricultura referem que das 475 empresas produtoras de mais de 1 000 hL/ano, apenas 7% possui licença para evacuação dos respetivos efluentes.

Ou seja, ambiente e vinhos não têm andado de mãos dadas em Portugal, com a agravante de os efluentes vinícolas serem cerca de 10 a 100 vezes mais poluentes que os efluentes domésticos. Surpreendido/a?
E se eu adiantar ainda que a carga poluente anual com origem na atividade vinícola é equivalente à produzida por uma cidade com cerca de 2 milhões de habitantes? Mais surpreendido/a ainda?
Se até ao momento a imagem de um vinho estava ligada ao triângulo casta/terroir/vinificação, deverá num futuro breve e urgente estar associada ao quadrado casta/terroir/vinificação/ambiente.

As empresas associadas a práticas vinícolas responsáveis, para além de respeitarem o ambiente e de cumprirem a lei, estarão privilegiar a satisfação das necessidades e desejos dos consumidores, cada vez mais esclarecidos e sensíveis à temática da sustentabilidade, fidelizando-os através de estratégias de marketing relacional em detrimento do marketing transacional puro.
Ambiente, empresas e consumidores - todos sairão a ganhar.