Friday, January 18, 2013

A pegada azul dos vinhos


  Foi criada uma etiqueta de certificação de sustentabilidade para empresas vinícolas da União Europeia (EU) que dá pelo nome de Eco-Prowine.
A atribuição deste novo selo, que se pretende de reconhecimento mundial, atesta a sustentabilidade da produção de uvas e vinhos.
Esta iniciativa é de louvar considerando a necessidade de melhorar o desempenho, e o respetivo reconhecimento por parte dos consumidores, da componente ambiental das empresas vinícolas europeias.
No entanto, particularmente no caso dos produtores nacionais, há que ter em conta duas cruas realidades às quais me atreveria a chamar o “paradoxo ambiental português”.
A primeira é que a grande maioria das empresas vinícolas é de pequena dimensão (apenas 475 produzem mais que 1000 hL de vinho/ano num total de cerca de 38 700 locais de vinificação) logo, poderão ver acrescidas de forma significativa os custos inerentes a tal certificação ou nem sequer a solicitar, sendo que, precisamente por serem pequenas terão, em princípio, um impacto ambiental menor.
A segunda é que o respeito pelo ambiente em Portugal é algo que, genericamente, não existe.
Diversos relatórios oficiais registam o incumprimento pela esmagadora maioria das empresas do setor das normas ambientais. Por exemplo, a Inspeção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território concluiu que, para a campanha 2004/2005, apenas 7% das empresas possuem licença para descarga de efluentes em meio hídrico e apenas 1% cumprem a totalidade das prerrogativas relacionadas com o ambiente.
Em 2007 o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) conclui que 43% das adegas cooperativas não tem qualquer sistema de tratamento de efluentes vinícolas.
Para o mesmo ano, os Ministérios do Ambiente e da Agricultura referem que das 475 empresas produtoras de mais de 1 000 hL/ano, apenas 7% possui licença para evacuação dos respetivos efluentes.

Ou seja, ambiente e vinhos não têm andado de mãos dadas em Portugal, com a agravante de os efluentes vinícolas serem cerca de 10 a 100 vezes mais poluentes que os efluentes domésticos. Surpreendido/a?
E se eu adiantar ainda que a carga poluente anual com origem na atividade vinícola é equivalente à produzida por uma cidade com cerca de 2 milhões de habitantes? Mais surpreendido/a ainda?
Se até ao momento a imagem de um vinho estava ligada ao triângulo casta/terroir/vinificação, deverá num futuro breve e urgente estar associada ao quadrado casta/terroir/vinificação/ambiente.

As empresas associadas a práticas vinícolas responsáveis, para além de respeitarem o ambiente e de cumprirem a lei, estarão privilegiar a satisfação das necessidades e desejos dos consumidores, cada vez mais esclarecidos e sensíveis à temática da sustentabilidade, fidelizando-os através de estratégias de marketing relacional em detrimento do marketing transacional puro.
Ambiente, empresas e consumidores - todos sairão a ganhar.

Sunday, July 15, 2012


Os Verdes do meu (des)contentamento

Realizou-se ontem, em Amarante, no muuuuito recomendável restaurante A Eira, um jantar vínico que gravitou em torno dos vinhos verdes amarantinos – burgo de conhecidos e ilustres personagens (Amadeu de Sousa Cardoso, Agustina Bessa Luís, Teixeira de Pascoais, …) e de desconhecidos mas igualmente ilustres vinhos. Destaque-se que Amarante é uma das nove sub-regiões que constituem a região demarcada dos vinhos verdes. As restantes são Ave, Baião, Basto, Cávado, Lima, Monção, Paiva e Sousa. Totalizam cerca de 35 000 hectares (ha), envolvem cerca de 34 000 vitivinicultores e dão origem a cerca de 90 milhões de vinho/ano. A sub-região de Amarante contribui com 2 900 ha, 3300 vitivinicultores e 6,5 milhões de litros.

A ocasião foi, e muito bem, razão e oportunidade para  a única associação representativa dos produtores de vinho verde de Amarante , a ProViverde se dar a conhecer aos comensais.

Esta organização com a proveta idade de 25 anos tem vegetado à sombra de si própria. Espera-se agora que com uma nova Direção (empossada há escassos meses) a situação se inverta, considerando o muito que há a fazer pelos vinhos da sub-região.

Numa época em que o sector cooperativo minhoto agoniza nos seus próprios vícios apesar do peso significativo que tem na produção de vinho (25% em 2010/2011)  cabe, para além dos próprios produtores individuais, às organizações de natureza mais intimista a responsabilidade de um trabalho que nem o Estado nem as Cooperativas, nem as maioria das Comissões Vitivinícolas Regionais (CVRs), sabem fazer. E falamos de quê? No fundo falamos da aplicação das “leis” do marketing mix – o preço, o produto, a distribuição e a comunicação. Considerando que as três primeiras são postas em prática pela maioria dos agentes, incide na última a responsabilidade maior do sucesso ou do insucesso de toda a fileira.

Até hoje o Estado não o quis fazer porque entendia não ser a sua vocação e/ou missão. Começa agora, finalmente, a ver a coisa por outro azimute - atente-se quer nas funções atribuídas atualmente aos Embaixadores portugueses, quer à atividade de fundo do Ministro dos Negócios Estrangeiros e, se quisermos, ao Ministro da Economia com sua ingénua defesa ao pastel de Belém.

As CVRs, mais afoitas, têm feito a coisa bastante melhor mas, ainda assim, encapsuladas em leis/estatutos, maioritariamente definidos pelas próprias, que em nada contribuem para as razões da sua existência. Vejamos um simples exemplo: os estatutos da Comissão Vitivinícola Regional dos Vinhos Verdes (CVRVV) definem um rendimento máximo por ha  que ronda as 11 toneladas (ton). No entanto, se o mesmo ha produzir 15 ton, apenas 4 ton são desclassificadas ou seja, não poderão dar origem a vinho verde. Se a coisa fosse levada a sério, obviamente que toda a produção teria de ser desclassificada e não apenas o “excesso”. Dito de outra forma: como saber, dentro das 15 ton, quais são as 11 ton “boas” e as 4 ton “más”? Se considerarmos ainda que 99 % do vinho produzido no Minho é considerado Denominação de Origem Protegida (DOP), enquanto a média nacional para os vinhos DOP é 16%, facilmente inferimos que não é com aquele contra-senso (entre outros) que se defendem os vinhos da região.

O que é que isto tem a ver com a tal 4ª “lei” do marketin-mix? Tudo! Ou não é a coerência e a honestidade da mensagem, uma vantagem intangível do produto?

Monday, February 06, 2012

Poluição com origem na industria vinícola


A elaboração de vinhos de qualidade está, por razões de higiene, associada ao consumo de um volume significativo de água. Esta, depois de utilizada nas diferentes operações de lavagem e/ou desinfeção constitui uma fonte de poluição significativa, particularmente no período da vindima (60 a 70% do volume total anual de efluentes produzidos) e durante as trasfegas e filtrações. Apesar de, no essencial, a carga poluente ser constituída por substancias naturais com origem na uva e no vinho, quando em contato com o meio receptor - geralmente massas de água - provoca o rápido desenvolvimento de microrganismos consumidores do oxigénio dissolvido no meio, levando ao desaparecimento da fauna e da flora do ecossistema.
Sendo as vindimas no fim do Verão, logo, no período de menor disponibilidade hídrica das massas de água, facilmente se percebe o impacto negativo no ambiente, cujas consequências têm sido francamente subestimadas.
Reduzir o consumo de água e utilizar dispositivos de tratamento dos efluentes gerados, para além do respeito pelas imposições de ordem legislativa, devem fazer parte da responsabilidade social das empresas vinícolas.
Os métodos de tratamento dos efluentes são, genericamente, físicos ou biológicos. Os primeiros pretendem concentrar, por evaporação, os efluentes decantados ou crivados, a partir de lagoas estanques ou de painéis alveolares com ou sem ventilação forçada. São pouco utilizados em Portugal. Os segundos incluem tratamentos anaeróbios e aeróbios. Dentro destes, os tratamentos aeróbios são os mais utilizados por serem os mais eficazes e rápidos, quer na sua forma mais primitiva - distribuição no solo, desde que se respeitem determinados condicionalismos, quer na sua forma mais técnica - lamas activadas. Neste caso, a matéria orgânica do efluente é, na presença de oxigénio e através da acção de microrganismos, transformada em compostos mais simples que, posteriormente, serão transformados em dióxido de carbono, água e biomassa.

Após o tratamento biológico, pode haver necessidade de recorrer a tratamentos complementares de acabamento. Neste caso recorre-se leitos de macrófitas,  ou seja, a plantas com capacidade depurativa, tais como Thypia latifolia, Phragmittes australis, Juncus polyanthemos. Esta técnica exige a regulação, a montante, do caudal e da carga orgânica o que, por sua vez, pressupõe a existência de capacidade de armazenamento do efluente pré-tratado.
Em qualquer dos casos, antes da escolha da solução para o tratamento dos efluentes, é imperativo assegurar a boa gestão da água na adega, de forma a minimizar o volume a tratar.
A evacuação de efluentes vinícolas através da rede de esgotos urbanos não é uma solução viável. No caso da estação de tratamento dos efluentes urbanos não estar preparada para este tipo de carga, entrará em disfunção, devido à sobrecarga orgânica causada pelo afluxo dos efluentes vinícolas, substancialmente diferentes dos efluentes domésticos.
Portugal produziu em 2010 cerca de 650 milhões de litros de vinho. Daqui resultaram, no mínimo, cerca de 2.000 milhões de litros de efluentes vinícolas. Sendo estes dez a cem vezes mais poluentes que os efluentes de origem doméstica, facilmente se percebe a dimensão do problema.
Os efluentes vinícolas enquadram-se na definição de “águas residuais industriais” ou seja todas as águas residuais provenientes de qualquer tipo de atividade, que não possam ser classificadas como águas residuais domésticas ou águas pluviais.
Apesar da legislação nacional, nomeadamente o Decreto-Lei 236/98 de 01 de Agosto, definir  as normas de descarga das águas residuais nas linhas de água e no solo, com a finalidade de proteger o ambiente, muito poucas são as empresas vinícolas que as cumprem. O facilitismo é tanto que a validação anual das licenças para descargas de efluentes em meio hídrico são emitidas por uma entidade pública oficial, mediante (pasme-se) a análise de uma amostra do efluente que é recolhido e entregue pela própria empresa poluidora.
A nível comunitário a directiva 2000/60/CE de 23 de Novembro define um quadro para uma política comum relativa à água, com o objectivo de manter a qualidade das águas superficiais e subterrâneas, em todos os países da União Europeia. A Comissão Europeia vai levar a tribunal Portugal por não cumprir esta legislação.

As principais características dos efluentes de origem vinícola são: elevada concentração de matéria orgânica com valores médios em carência química de oxigénio (CQO) de 15 a 20 g/L. Este valor representa a quantidade total de poluição oxidável, o que corresponde à quantidade de oxigénio necessária para oxidar as substâncias de origem orgânica e mineral do efluente. À descarga, este valor não deve ser superior a 150 mg/L; elevada concentração de sólidos suspensos totais (SST) com valores médios de 3 g/L. À descarga este valor não pode ser superior a 60 mg/L; pH entre 3,5 e 4,5. À descarga este valor deve estar compreendido entre 6 e 9.

O número de habitantes do planeta Terra atingiu a cifra dos 7 mil milhões  em Outubro de 2011. Em 1974 éramos 4 mil milhões. .Ou seja, em apenas 37 anos a população do planeta quase duplicou.
Esta realidade deveria bastar, por si só, para encararmos a defesa dos recursos naturais do planeta, nomeadamente a água, como um dos principais desafios da espécie humana.

Para os que ainda precisam de outras motivações:
A enologia tem na poluição dos recursos, uma forte ameaça (na perspectiva de marketing).
Para a combater, podeM e devem criar-se  novas oportunidades, tais como:
a) majorar a capacidade de articulação com a atividade turística e com o agro-turismo. As sinergias produzem resultados globais superiores à soma das parcelas pelos efeitos multiplicadores e pelas externalidades geradas. Tal implica identificar os segmentos e/ou os nichos de mercado existentes e seleccionar aqueles que mais valorizam esses benefícios, indo de encontro às necessidades dos clientes alvo e surpreendendo-os, para manter sempre alguma excitação sobre os produtos;
b) potenciar a mais-valia, isto é, procurar criar um espaço para o  produto na mente dos consumidores seleccionados, através de um slogan, ou frase curta, facilmente memorizável e que resuma e reforce as envolvencias ambientais por eles valorizados e em que o  produto mais se distingue;
c) comunicar mais eficazmente as vantagens  intangíveis do produto, ou seja comunicar um produto ambientalmente responsável.
O modo como um empresário administra os dejetos que produz, é um bom aferidor do nível qualitativo dos produtos que oferece. Os consumidores, mais tarde ou mais cedo, saberão valorizar esta obrigação e este cuidado.    

Sobre os ofícios de jornalista, cidadão e bloguista

O carácter anárquico da internet dos nossos dias deslumbra e assusta. Como meio de comunicação democrático que é, tem o mérito de subverter a tradicional comunicação vertical impositiva, numa outra, horizontal.

Por jornalista devemos entender o profissional que pesquisa, recolhe, selecciona e trata factos e opiniões através do texto, imagem ou som, sendo o seu trabalho desenvolvido como ocupação principal remunerada e destinada a ser divulgada por um meio de comunicação social. E bloguista? O que é? De momento apenas se sabe que a expressão está muito em voga e que estes vão mais à frente, já que detêm o controle completo dos conteúdos que pretendem editar – quem tiver uma estória para contar já não necessita de um editor para a dar a conhecer.
Moda? Narcisismo? Frustração? Necessidade de reforço de uma presença até então diluída nos media tradicionais? Altruísmo? Novos deveres de cidadania? O aparecimento dos bloguistas deriva do facto de a net e outras novas tecnologias de consumo, terem derrubado os obstáculos ao registo e divulgação de informação, possibilitando aos anónimos participarem num jogo tradicionalmente protagonizado por profissionais. Não nos enganemos no entanto, porque na maioria dos casos as notícias divulgadas pelos bloguistas tiveram origem nos media tradicionais.
A blogosfera permitiu ao cidadão não jornalista um refrescante protagonismo comunicacional. Sendo verdade que o bloguista pode fazer um trabalho de mérito, pergunta-se? Pode a informação estar dependente da voluntariedade, mesmo considerando que ela é idónea ?  Coisa que, desenganemo-nos, raramente acontece... 

Praticamente todos os jornais de referência do mundo oferecem a possibilidade aos seus leitores de criarem blogues. Entre nós os Expresso,  Sol, Publico e i são exemplos. São os media a tentar capturar os excessos!
Em 2006, o sindicato de jornalistas da Grã-Bretanha tornou-se na primeira entidade a regulamentar (ou pelos menos a tentar) a participação de cidadãos na produção e distribuição de notícias. Segundo este “Código de Conduta” os jornalistas britânicos só podem publicar uma informação recebida de um cidadão jornalista após verificação da sua veracidade, usando outras fontes. E entre nós? Do que estamos à espera?

Quais são então os limites do ofício do jornalista e do cidadão?

Uma corrente académica actual acredita que a liberdade de reflexão do receptor terá sido a progenitora da vulgarização do bloguista, materializada pela web. Este revolucionário meio de comunicação retiraria dos grandes veículos de mediação de massas a propriedade e a autoridade sobre a informação, passando assim esta a ser do domínio público.
Este no entanto parece ser um falso problema. A informação sempre foi do domínio público. As diferentes épocas históricas e os diferentes cenários políticos é que fazem dela artigo privado a ser disponibilizado consoante a ocasião entendida como a mais favorável.
Mas, escrever em blogues é fazer jornalismo? Os blogues actuais são estruturas que servem principalmente para a criação de opiniões – a criação autónoma, a liberdade de edição, a gratuitidade e os comentário são aliciantes para quem quer partilhar e libertar a sua opinião, embora geralmente correspondam ao assumir de protagonismos motivados por razões privadas. Blogues são apenas locais interactivos de produzir informação (pouca) e opinião (muita).
O bloguista será assim, tal como o cidadão-jonalista, apenas uma nova espécie no ecossistema mediático de uma rede que torna possível acumular as funções de repórter, redactor e editor. Trata-se de uma ruptura em relação aos meios tradicionais de comunicação de massas – qualquer computador ligado à internet, pode ser correio, jornal, editora, estação de rádio ou de televisão.
Mas, atenção! O entusiasmo com o potencial de inserção na rede precisa de ser refreado, tendo em conta a realidade da desigualdade ao seu acesso bem como a capacitação individual em a utilizar. Em Portugal apenas 15% da população tem acesso à net a partir de casa!...
Imberbes nos actos, ingénuos na excitação da novidade, o bloguista, mais tarde ou mais cedo, será também ele digerido na voragem interesseira dos grandes grupos económicos – coisa que aliás já vai acontecendo. Exemplo: O Publico.pt está a convidar bloguistas especializados que ocupem lugar de destaque no seu domínio, para se juntarem à lista de blogues do jornal.
A solução poderá passar pela associação dos cidadãos-jornalistas e/ou bloguistas à margem de qualquer grupo empresarial como de resto já foi feito pelo sul coreano Oh Yeon Ho e a sua publicação online OhMyNews, que conta com mais de 40.000 colaboradores pulverizados pelo mundo. Até quando será possível (até quando lho permitirão), ou até quando ele próprio não se afundará no seu próprio deslumbramento e se transformará naquilo que critica, eis a questão!?
Fundamentados na realidade de uma web sem restrições, os bloguistas podem tornar-se avessos a qualquer tipo de mediação ou controle, porque desvirtuaria a sua total liberdade de expressão. Mas, quantos estarão dispostos a pagar por uma publicação feita exclusivamente por eles? E quando os mecanismo de responsabilização legal e civil estiverem a funcionar em pleno, quantos desejarão continuar a sê-lo?
As notícias são gulosas em disponibilidade. Quanto envolvimento físico, mental e temporal o bloguista terá para dar, para além daquele que reforça o seu interesse pessoal e imediato? Durante quanto tempo? Será a interactividade (teoricamente inesgotável dentro de cada matéria) compatível com os prazos de conclusão dos trabalhos?
Talvez nas palavras de Ramonet esteja parte da explicação para isso, ao defender que “a informação está transformada em mercadoria. Não possui valor específico ligado, por exemplo, à verdade ou à sua eficácia cívica. Enquanto mercadoria, ela está em grande parte sujeita às leis do mercado da oferta e da procura, em vez de estar sujeita a outras regras, cívicas e éticas, de modo especial, que deveriam, estas sim, ser as suas”.
Vivemos numa época em que a especialização é a cereja, no bolo da qualquer carreira. Porque boa razão passará agora a massa anónima de cidadãos mais ou menos letrados, a iluminar-se nas fontes subjectivas de um qualquer bloguista, em prejuízo de um profissional de comunicação? Estarão os media a desistir das suas verdadeiras responsabilidades por razões primárias (leia-se economicistas)? Estou com medo que esta seja a verdadeira razão...
São as novas necessidades que geram as novas funções. Elimine-se a necessidade sentida por alguns cidadãos em dar a conhecer o mundo tal como ele verdadeiramente é, reconquiste-se a confiança outrora sentida pelos cidadãos nos jornalistas e teremos de novo cada um a cumprir o seu ofício.
Mas, helas, não nos esqueçamos que o potencial emergente da net é tudo menos privilégio apenas dos cidadãos. As multinacionais, parecendo de momento anestesiadas e confusas, são gigantes adormecidos que não tardarão a acordar. E de novo os cidadãos tentarão reagir. E, é deste equilíbrio desequilibrado que se vai fazendo (e lamentando) o percurso da história. A ágora ateniense nunca foi verdadeiramente instituída tal como nunca será a ágora electrónica materializada pelo nó que cada cidadão constituiria na rede.
Deixemo-nos de utopias. As condições sócio-económicas proporcionadas aos cidadãos são as verdadeiras ferramentas da democracia. Não o web-jornalista, não os bloguistas.


Tuesday, November 29, 2011

O sulfuroso na saúde e na enologia

O dióxido de enxofre (SO2) ou sulfuroso, é o mais antigo produto enológico. Os romanos já o utilizavam, sob a forma de mechas de enxofre. No século XV, na Alemanha, as suas potencialidades já eram conhecidas na desinfecção de barris.
As suas múltiplas caraterísticas e a utilização cada vez mais simples e prática, fazem dele um aditivo quase obrigatório na elaboração e/ou conservação do vinho. As mais recentes evoluções na enologia permitiram racionalizar o seu uso, de tal forma que as doses de emprego correspondem hoje a cerca de 25% das que se utilizavam há 100 anos.
Um dos objectivos da enologia é reduzir até ao limite do necessário o teor de SO2 no vinho, mantendo as suas qualidades. Estas preocupações resultam do facto de apresentar alguma toxicidade para o utilizador e para oconsumidor, particularmente para os asmáticos.
A toxicidade aguda é raríssima, podendo manifestar-se através de crises alérgicas, enxaquecas, tosse violenta, náuseas, irritação dos olhos, dores torácicas.
A toxicidade crónica pode ocorrer através da destruição da tiamina/vitamina B1 (em caso de regime alimentar carenciado), enfraquecimento do esmalte dentário, irritação dos olhos e vias respiratórias.
A legislação obriga a referir no rótulo do vinho a presença de sulfitos (sais de ácido sulfuroso). Qualquer vinho com mais de 10 mg/litro de SO2 (teor que pode ser natural, ou seja, sem origem na adição de sulfuroso) deve identificar a sua presença.
A OMS fixou a dose diária admissível em 0,7 mg de SO2/Kg de peso corporal. O consumo de vinho pode estar na origem de cerca de 75% deste valor. Um adulto de 70 Kg poderá ingerir até 49 mg de sulfuroso/dia. Este valor equivale ao consumo de 0,5 litros de vinho com 100 mg/litro.
Nenhum outro produto enológico apresenta espectro de ação tão alargado. Alguns são utilizados apenas como substitutos parciais:
A tiamina (60 mg/hl no máximo) – adicionada no início da fermentação, altera o metabolismo das leveduras, fazendo com que estas produzam menos compostos cetónicos. Daqui resulta um maior teor de SO2 livre.
O sorbato de potássio (200 mg/l no máximo) – utilizado quando se pretende apenas um efeito anti-leveduras. Por exemplo, na estabilização de vinhos doces.
O ácido ascórbico (150 mg/l no máximo) – tem elevada capacidade antioxidante. Utilizado apenas em vinhos de consumo rápido. O seu uso na proteção das uvas brancas, antes da vinificação, não permite reduzir as doses de utilização de SO2.
A lisozima (50 g/hl no máximo) – permite a substituição do SO2 na gestão da população de bactérias responsáveis pela fermentação malolática, através da degradação da respectiva parede celular. Esta capacidade aumenta à medida que aumenta o pH do meio. Por não afetar as leveduras pode ser utilizada em amuos da fermentação alcoólica, associada a riscos de pico lático.
O gelo seco e a neve carbónica – utilizados quer para arrefecer mosto/massas vínicas, quer para protegê-los das oxidações.
Através da utilização de tecnologias recentes, tais como a microfiltração tangencial e a flash pasteurização é também possível baixar as doses de SO2. Ambas reduzem a população microbiana do vinho. A primeira, por filtração. A segunda, através da elevação da temperatura do vinho até 75ºC durante alguns segundos.

Teores máximos admissíveis de SO2 total (exp. mg/l) nos vinhos portugueses, colocados no mercado
Tinto seco : 150
Branco e Rosado secos: 200
Tinto com teor de glucose + frutose ≥ 5 gr/l: 200
Branco e Rosado com teor de glucose + frutose ≥ 5 gr/l: 250
Branco “Colheita tardia” denominação Douro: 400
Licoroso seco: 150
Licoroso com teor de glucose + frutose ≥ 5 gr/l: 200
Espumante de qualidade: 185
Outros espumantes: 235

Para os mais puristas no que concerne a questões de natureza alimentar, julgamos ser importante cruzar a temática com duas outras abordagens. Uma diz respeito ao chamado “vinho biológico”. Importa esclarecer que esta designação não é aceite a nível comunitário, ou seja, não existe “vinho biológico”. Apenas se reconhece a produção de uvas de origem biológica, não a sua transformação.
Outra, mais importante e abrangente, diz respeito aos alimentos pré-embalados (fiambres, legumes, queijos, peixes, batatas fritas, etc.) A grande maioria também contém sulfitos, alguns deles com valores cerca de dez superiores aos do vinho - por exemplo os frutos secos descascados. Pelo facto de a grande maioria destes alimentos não possuírem caraterísticas que reforcem a respetiva capacidade de auto conservação (ao contrário do que acontece nos vinhos, atendendo ao álcool, pH baixo e, alguns deles, taninos), são ainda adicionadas com uma miríade de substâncias, algumas delas mais perniciosas para a saúde que o SO2. Registe-se que a CE permite a utilização de 399 aditivos na indústria alimentar - 52 corantes; 36 conservantes; 35 antioxidantes; 84 emulsionantes, estabilizadores, espessantes e gelificantes; 19 edulcorantes e ainda 173 “outros”. Destes, alguns apresentam contra-indicações preocupantes. Por exemplo, o E-621 (glutamato monossódico) utilizado como intensificador de sabor, está associado a palpitações, dores de cabeça, náuseas, dores no pescoço, endurecimento muscular e fraqueza dos braços. O E-210 (ácido benzóico) está associado a desordens de natureza neurológica. O E-151 (corante artificial negro) está associado à formação de quistos intestinais em porcos.
Assim, caso pretendamos reduzir os níveis de aditivos ingeridos, devemos começar por eliminar o consumo de alimentos pré-transformados, sendo o vinho a menor das ameaças.

Na figura acima, um espumante italiano anunciado como não tendo sulfuroso. Se não for mito, é uma realidade ao alcance de muito poucos, pelo preço que lhe estará associado.

Nota: SO2 total = SO2 combinado + SO2 livre ( a fração mais eficaz)

Saturday, February 12, 2011

Quinta do Seixo. Não matem a galinha por favor!

Foi há poucos dias.
Era um domingo cordial. Daqueles que nos vassouram para fora de casa! E lá fui ter, com um grupo de amigos, às margens do Douro. O objectivo era um dos ícones locais, a lindíssima Quinta do Seixo (Sandeman).
Ar lavado, sol honesto pelo meio-dia, subida com vista de cortar a respiração, vinhas meticulosamente tratadas, acessos a condizer e eis-nos num local onde dá gosto estar.
Recepção profissional e impecável. Passagem à segunda ronda onde um encapuçado, símbolo da marca, se propôs guiar-nos pelas instalações. Quase perfeito, se descontarmos a nítida pressa com que a coisa correu. Bem, admito que chegamos algo em cima da hora, mas os clientes tem sempre razão... Certo?
Finalmente, chegados a uma sala lindíssima, feliz na arquitectura que majora a bênção da altitude e da vista que drena até ao rio, lá nos abancamos para satisfazer o palato. Dois vinhos do Porto Tawny, um branco e um tinto, serviço esmerado em copos que o Siza Vieira resolveu complicar e que, ainda assim, são os “oficiais”. Mas, até aqui tudo bem. O pior veio depois e, também desta vez, a culpa veio da mensagem e não do mensageiro. Explico. Então não é que uma das recomendações para o melhor consumo daqueles vinhos, paridos naquela heróica região, naquelas vinhas encavalitadas monte acima, naquelas instalações magníficas onde até se dão ao “luxo” de ter diferentes sistemas de vinificação de tintos de acordo com as características dos anos e das massas, é : podem misturá-lo com cerveja! Ai, ai, vinho do Porto com cerveja….
Percebo a realidade do sector e a necessidade de pragmatismo comercial, mas não é assim que se faz! De resto, o ano de 2010 até foi aquele que registou um aumento de vendas de Porto relativamente aos últimos 10 anos (aumento de 5% em valor e 2,9% em volume). E estou certo, não foi pela sua diluição numa qualquer cerveja, num qualquer país.
A expansão da base de consumo não passa pela prostituição do vinho, mas sim pela sua valorização e pela educação dos sentidos. De resto, vinho com cerveja é a antítese do enoturismo que tanto e tão bem tem servido a região nos últimos anos.

Vou dar uma borla à Quinta do Seixo/Sandeman, com outras recomendações que não a cerveja: pratos de queijo, sobremesas doces (não ultrapassando a doçura do vinho), chocolate com um toque amargo, natural ou pela adição da bagas ou frutos ácidos.
Se se atreverem a casarem um LBV ou um Vintage com queijo Roquefort vão descobrir baunilha na hibridação.

Friday, February 11, 2011

Seminário Vitivinicultura Atlântica - Construir o Futuro. Pico, Junho 2011



O facto de existirem numerosos países, com significado vitivinícola, banhados pelo Atlântico, como são os casos de Portugal, Espanha, França, EUA (estados de Nova Iorque e Virginia), Brasil, Uruguai, Argentina e África do Sul, deveria ser a premissa para uma reflexão sobre aquilo que entende como zona vitícola atlântica ou vitivinicultura atlântica. Como se sabe, as vitiviniculturas intra-país e inter-países são tão diversas, quanto diversas são as principais castas cultivadas (sendo elas autóctones ou importadas), as técnicas vitícolas e enológicas utilizadas, as características macro e mesoclimáticas e as características edáficas.
Tal constatação, remete-nos para a pergunta: o que é a vitivinicultura atlântica? Quais são os factores que a tipificam e diferenciam das restantes?
Como ponto da partida, a análise dos principais índices bioclimáticos vitícolas (temperatura, iluminação, precipitação, índice heliotérmico) revelaria só por si um plano de clivagem nítido entre a “viticultura insular atlântica” e a restante viticultura atlântica. Mário Fregoni, no I Congresso Internacional de Viticultura Atlântica (Espanha,1994) , preconizava mesmo a criação de um grupo de peritos no seio da O.I.V. para o estudo desta temática.
Assim, mais do que uma referenciação aferida ao oceano Atlântico, a especificidade da vitivinicultura dos Açores, das Canárias e da Madeira, depois de identificada e quantificada, deveria merecer por si só uma terminologia própria – vitivinicultura insular atlântica?
Após a concretização desta premissa, a defesa da especificidade destes três arquipélagos apresentaria, desde logo, um maior numero de argumentos, culturais, legislativos, técnicos e promocionais.

Numa época de forte aposta no enoturismo, poderia estar aqui uma das chaves para a manutenção daquelas vitiviniculturas, que se desejam vivas e com saúde. Sim, porque por aquelas brumosas bandas, também se faz vinho de qualidade. Senão, vejamos:

sabiam que o VLQPRD Pico 2000 foi Medalha de Ouro no XIII Concurso de Vinhos e Bebidas Espirituosas na Feira Internacional “PRODEXPO” Moscovo 2011 no passado dia 5?

Pois é... quero ver agora as revistas da "especialidade" a darem o devido destaque à coisa em grandes parangonas, como fazem com a marcas mais mediáticas.Ou isso, ou sou levado a pensar que precisamos de uns cálices de equidade e genuinidade nos media báquicos.

Wednesday, February 14, 2007

As novas três dimensões - o tempo, o espaço e o conteúdo


E que tal se estivesse ao alcance de um qualquer enófilo uma raridade com érre grande?Raridade pelo tempo, pela personalidade e (quase que aposto) pelo conteúdo ?
Uma garrafa de Porto, de 1815, da pombalina Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, com dedicatória e assinatura do notabilíssimo Prof. Bento de Jesus Caraça, está à venda pela melhor oferta acima de 1500 euros.
A proprietária contacta-se através do email ethel.feldman@gmail.com
Se nunca viajaram no tempo esta é uma forma fabulosa....