Saturday, February 12, 2011

Quinta do Seixo. Não matem a galinha por favor!

Foi há poucos dias.
Era um domingo cordial. Daqueles que nos vassouram para fora de casa! E lá fui ter, com um grupo de amigos, às margens do Douro. O objectivo era um dos ícones locais, a lindíssima Quinta do Seixo (Sandeman).
Ar lavado, sol honesto pelo meio-dia, subida com vista de cortar a respiração, vinhas meticulosamente tratadas, acessos a condizer e eis-nos num local onde dá gosto estar.
Recepção profissional e impecável. Passagem à segunda ronda onde um encapuçado, símbolo da marca, se propôs guiar-nos pelas instalações. Quase perfeito, se descontarmos a nítida pressa com que a coisa correu. Bem, admito que chegamos algo em cima da hora, mas os clientes tem sempre razão... Certo?
Finalmente, chegados a uma sala lindíssima, feliz na arquitectura que majora a bênção da altitude e da vista que drena até ao rio, lá nos abancamos para satisfazer o palato. Dois vinhos do Porto Tawny, um branco e um tinto, serviço esmerado em copos que o Siza Vieira resolveu complicar e que, ainda assim, são os “oficiais”. Mas, até aqui tudo bem. O pior veio depois e, também desta vez, a culpa veio da mensagem e não do mensageiro. Explico. Então não é que uma das recomendações para o melhor consumo daqueles vinhos, paridos naquela heróica região, naquelas vinhas encavalitadas monte acima, naquelas instalações magníficas onde até se dão ao “luxo” de ter diferentes sistemas de vinificação de tintos de acordo com as características dos anos e das massas, é : podem misturá-lo com cerveja! Ai, ai, vinho do Porto com cerveja….
Percebo a realidade do sector e a necessidade de pragmatismo comercial, mas não é assim que se faz! De resto, o ano de 2010 até foi aquele que registou um aumento de vendas de Porto relativamente aos últimos 10 anos (aumento de 5% em valor e 2,9% em volume). E estou certo, não foi pela sua diluição numa qualquer cerveja, num qualquer país.
A expansão da base de consumo não passa pela prostituição do vinho, mas sim pela sua valorização e pela educação dos sentidos. De resto, vinho com cerveja é a antítese do enoturismo que tanto e tão bem tem servido a região nos últimos anos.

Vou dar uma borla à Quinta do Seixo/Sandeman, com outras recomendações que não a cerveja: pratos de queijo, sobremesas doces (não ultrapassando a doçura do vinho), chocolate com um toque amargo, natural ou pela adição da bagas ou frutos ácidos.
Se se atreverem a casarem um LBV ou um Vintage com queijo Roquefort vão descobrir baunilha na hibridação.

1 comment:

Unknown said...

Que bom que vc voltou a postar mensagens aqui.