Monday, February 06, 2012

Poluição com origem na industria vinícola


A elaboração de vinhos de qualidade está, por razões de higiene, associada ao consumo de um volume significativo de água. Esta, depois de utilizada nas diferentes operações de lavagem e/ou desinfeção constitui uma fonte de poluição significativa, particularmente no período da vindima (60 a 70% do volume total anual de efluentes produzidos) e durante as trasfegas e filtrações. Apesar de, no essencial, a carga poluente ser constituída por substancias naturais com origem na uva e no vinho, quando em contato com o meio receptor - geralmente massas de água - provoca o rápido desenvolvimento de microrganismos consumidores do oxigénio dissolvido no meio, levando ao desaparecimento da fauna e da flora do ecossistema.
Sendo as vindimas no fim do Verão, logo, no período de menor disponibilidade hídrica das massas de água, facilmente se percebe o impacto negativo no ambiente, cujas consequências têm sido francamente subestimadas.
Reduzir o consumo de água e utilizar dispositivos de tratamento dos efluentes gerados, para além do respeito pelas imposições de ordem legislativa, devem fazer parte da responsabilidade social das empresas vinícolas.
Os métodos de tratamento dos efluentes são, genericamente, físicos ou biológicos. Os primeiros pretendem concentrar, por evaporação, os efluentes decantados ou crivados, a partir de lagoas estanques ou de painéis alveolares com ou sem ventilação forçada. São pouco utilizados em Portugal. Os segundos incluem tratamentos anaeróbios e aeróbios. Dentro destes, os tratamentos aeróbios são os mais utilizados por serem os mais eficazes e rápidos, quer na sua forma mais primitiva - distribuição no solo, desde que se respeitem determinados condicionalismos, quer na sua forma mais técnica - lamas activadas. Neste caso, a matéria orgânica do efluente é, na presença de oxigénio e através da acção de microrganismos, transformada em compostos mais simples que, posteriormente, serão transformados em dióxido de carbono, água e biomassa.

Após o tratamento biológico, pode haver necessidade de recorrer a tratamentos complementares de acabamento. Neste caso recorre-se leitos de macrófitas,  ou seja, a plantas com capacidade depurativa, tais como Thypia latifolia, Phragmittes australis, Juncus polyanthemos. Esta técnica exige a regulação, a montante, do caudal e da carga orgânica o que, por sua vez, pressupõe a existência de capacidade de armazenamento do efluente pré-tratado.
Em qualquer dos casos, antes da escolha da solução para o tratamento dos efluentes, é imperativo assegurar a boa gestão da água na adega, de forma a minimizar o volume a tratar.
A evacuação de efluentes vinícolas através da rede de esgotos urbanos não é uma solução viável. No caso da estação de tratamento dos efluentes urbanos não estar preparada para este tipo de carga, entrará em disfunção, devido à sobrecarga orgânica causada pelo afluxo dos efluentes vinícolas, substancialmente diferentes dos efluentes domésticos.
Portugal produziu em 2010 cerca de 650 milhões de litros de vinho. Daqui resultaram, no mínimo, cerca de 2.000 milhões de litros de efluentes vinícolas. Sendo estes dez a cem vezes mais poluentes que os efluentes de origem doméstica, facilmente se percebe a dimensão do problema.
Os efluentes vinícolas enquadram-se na definição de “águas residuais industriais” ou seja todas as águas residuais provenientes de qualquer tipo de atividade, que não possam ser classificadas como águas residuais domésticas ou águas pluviais.
Apesar da legislação nacional, nomeadamente o Decreto-Lei 236/98 de 01 de Agosto, definir  as normas de descarga das águas residuais nas linhas de água e no solo, com a finalidade de proteger o ambiente, muito poucas são as empresas vinícolas que as cumprem. O facilitismo é tanto que a validação anual das licenças para descargas de efluentes em meio hídrico são emitidas por uma entidade pública oficial, mediante (pasme-se) a análise de uma amostra do efluente que é recolhido e entregue pela própria empresa poluidora.
A nível comunitário a directiva 2000/60/CE de 23 de Novembro define um quadro para uma política comum relativa à água, com o objectivo de manter a qualidade das águas superficiais e subterrâneas, em todos os países da União Europeia. A Comissão Europeia vai levar a tribunal Portugal por não cumprir esta legislação.

As principais características dos efluentes de origem vinícola são: elevada concentração de matéria orgânica com valores médios em carência química de oxigénio (CQO) de 15 a 20 g/L. Este valor representa a quantidade total de poluição oxidável, o que corresponde à quantidade de oxigénio necessária para oxidar as substâncias de origem orgânica e mineral do efluente. À descarga, este valor não deve ser superior a 150 mg/L; elevada concentração de sólidos suspensos totais (SST) com valores médios de 3 g/L. À descarga este valor não pode ser superior a 60 mg/L; pH entre 3,5 e 4,5. À descarga este valor deve estar compreendido entre 6 e 9.

O número de habitantes do planeta Terra atingiu a cifra dos 7 mil milhões  em Outubro de 2011. Em 1974 éramos 4 mil milhões. .Ou seja, em apenas 37 anos a população do planeta quase duplicou.
Esta realidade deveria bastar, por si só, para encararmos a defesa dos recursos naturais do planeta, nomeadamente a água, como um dos principais desafios da espécie humana.

Para os que ainda precisam de outras motivações:
A enologia tem na poluição dos recursos, uma forte ameaça (na perspectiva de marketing).
Para a combater, podeM e devem criar-se  novas oportunidades, tais como:
a) majorar a capacidade de articulação com a atividade turística e com o agro-turismo. As sinergias produzem resultados globais superiores à soma das parcelas pelos efeitos multiplicadores e pelas externalidades geradas. Tal implica identificar os segmentos e/ou os nichos de mercado existentes e seleccionar aqueles que mais valorizam esses benefícios, indo de encontro às necessidades dos clientes alvo e surpreendendo-os, para manter sempre alguma excitação sobre os produtos;
b) potenciar a mais-valia, isto é, procurar criar um espaço para o  produto na mente dos consumidores seleccionados, através de um slogan, ou frase curta, facilmente memorizável e que resuma e reforce as envolvencias ambientais por eles valorizados e em que o  produto mais se distingue;
c) comunicar mais eficazmente as vantagens  intangíveis do produto, ou seja comunicar um produto ambientalmente responsável.
O modo como um empresário administra os dejetos que produz, é um bom aferidor do nível qualitativo dos produtos que oferece. Os consumidores, mais tarde ou mais cedo, saberão valorizar esta obrigação e este cuidado.    

No comments: