Saturday, November 04, 2006

Práticas Enológicas Flutuantes

No dia 11 do mês passado, a Comissão Europeia (finalmente para uns, incompreensivelmente para outros) aprovou a legislação que permite a adição de pedaços/aparas de madeira ao vinho. Objectivo desta prática: madeirizar o vinho de forma mais rápida (porque se aumenta a superfície específica de contacto vinho/madeira) e mais barata (a madeira a utilizar será sempre um sub-produto da indústria de tanoaria, pelo menos até ao momento em que as empresas vendedoras consigam cinicamente convencer os clientes de que as aparas são melhores que os cascos. Ele há gente para tudo!…).
Como positivo da coisa temos que, de alguma forma, se tenta regulamentar uma prática proibida(na Europa, não nos países produtores do Novo Mundo) mas de facto praticada (é mais ou menos como o que se passa com o aborto…) pelas empresas mais insuspeitas. Regulamentam-se assim a terminologia do rótulo e a pureza e dimensão das aparas(chips) que têm de ser superiores a 2mm.
Como negativo, temos que o OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho) ao aceitar esta medida como prática enológica corrente, entra de alguma forma em contradição com outras práticas, nomeadamente a que refere a proibição de recorrer a aromatizantes na produção de vinho.

Se a fermentação, o estágio ou o envelhecimento de vinhos em cascos já funcionavam como fonte “artificial” de componentes aromáticos para o vinho, o que dizer destas “bombas” de aroma a madeira que também são as aparas(chips) ou os pedaços(ministaves)?
Está aberto o caminho para outros adjuvantes aromáticos ou abre-se uma enorme excepção aplicável apenas a esta medida?
Contente contente deve ter ficado o lobby francês da madeira de carvalho, premonitoriamente avisado pelo concidadão Lavoisier que já no século XVIII afirmava: “…nada se perde, tudo se transforma”.

Deseja-se sobretudo que o controle efectivo desta prática seja feito e que, em algum lugar da roupagem da garrafa, a informação sobre o tipo de técnica utilizada seja inequívoca. Mais ainda, esperemos que, para os amantes de vinho madeirizado, o preço por garrafa venha a descer, caso seja a madeira a estar dentro do vinho em vez do vinho dentro da madeira, coisa que tenho dificuldade em acreditar....

2 comments:

"OS PEDRAS NEGRAS": said...

Bravo!

Para além de se insinuar como um bom sítio de discussão on-line de temáticas importantes relacionadas com o vinho, revela-se um ponto de ligação entre amigos e colegas, apesar de distantes geograficamente.

Um Abraço dos Açores!

Viana Oliveira said...

caro Paulo
De facto "não há força nem tormenta" (zeca afonso) que justifique alheamento apesar da distância. Manda os teus comentários, sugestões, etc para que a coisa vá em frente.esta semana meto novo post.até lá divulga e caso entendas participar, envia texto que eu coloco.
abraço e continuação de bom trabalho